segunda-feira, 27 de julho de 2020

Retalhos

Meus braços, Teus dentes
Minhas pernas, tuas pernas
Pés descalços no pedal
Dedos condensados, pele crua.

Agulhada rigorosa, texturas
tropicais, colcha de desejo
Minha pele, tua saliva
Nossos olhos, um de cada

Suspiros ao pé da maquina
Tua boca, minha costa
Meu cabelo, tuas mãos

Cabeça, corpo e coração
Emendado, prendido
A linha e nó

Desvio.


Transfigurada
Cabeça ao vento
Alma posta

O que sentir na falta?
No silêncio impositor
Tanta confusão, Deusa!
Logo, também serás incriminada
Contigo, minha família
Gênero
Classe
E Raça

Sentirei saudades de não ter medo
Quase tanto quanto sinto, diariamente, de suas pernas
Laçando minhas pernas
                                     Ou nossas
Será que terei que sentir saudades do sorriso dos meus filhos?
Dos nossos?
Amigos perseguidos
Por amar demais?
Sim, os meus amam demais.

O amor esta nas linhas
Entre as trincheiras
No contato das nossas peles
Nos nossos abraços
O amor jamais estará nas entrelinhas do facismo
Pois, esta catarse do coração
Tem lado Lado
metafísico
Onde o ódio não faz sala.
Amor é resistência e revolução.



2018

Submersa

Queria eu
                  Submersa.
No contrário da estrutura farei minha morada
Não assobiarei mais
Nem mais pronunciarei os sons comuns do mundo

Meu canto recolhido
Fora de mim
Para não haver riscos

Abismo rubro
Distorcido do distorcido
Abaixo da parte mais alta do infinito
De hoje é lá que estarei

E não pronunciarei mais
Esses sons já conhecidos

Não reconhecerei mais
Nenhum órgão palpitará em solidão
Nem a de haver órgão!
Retornarei a unidade do átomo
E minha voz não será voz

Me expandirei para cada grão de areia e
para cada gota de água
Vagarosamente
Me desfazendo em partículas subatômicas
Extinguida de toda forma

Eu não pronunciarei mais nada
Quero
            Submersa
Perder-me.


2019

Sonho.


Sonho que mato-me
Deito na terra
Me suga as chagas
Escoa meu sangue
Exposto

Sem medo
Repouso no sono eterno
e assim, permito os insetos me
arrancarem as sobras

Arapocas brancas levam a febre
do meu corpo encurvado
Um pé de capim santo leva meu cansaço
Em uma semente repousa
a angústia acumulada
                                      Desde a morte anterior.

Alamandas me cobrem
a totalidade da epiderme
Um leito de folhas de bananeira sob mim

Gosto meu
na ponta da língua
Olhos abertos
Docemente penetrados
À frente

2020

Joana Flor



Olho para o céu e te vejo
Minha morena, pequenininha
Se pudesses estavas pelos telhados
Junto com os passarinhos

Estarias camuflada
Nos dourados vastos
Imensidão de areia
Banhada pelas águas doces de minha mãe

Na mata, sabiá
Periquita amarela
Canário da terra
No rio, grãos reluzentes
de água e sol

Não me enganas
Teu olhar escorpião
 É veneno certeiro
Que deixo pousar
Arear docemente
meu coração.


2020.

terça-feira, 18 de abril de 2017

Olhos de Rio

Todas as segundas meus olhos neblinam
Meus olhos, cor de rio
Que passeia nas sombras de tantas
Como arvores, tão antigas
Quanto.

Sementes de agua doce
Lembranças do selvagem
Meu sangue quente
                                     Instinto ardil
Nessas correntezas sou abraçada e despida
De pele
De forma
Do tempo

Meus olhos cachoeira

Coincide com essas segundas terrestres
O retorno de meus ancestrais
Como um sopro de sentimentos
Memorias no espaço aberto
São pancadas de intensidade

Lagrimas,
Que meus olhos não conseguem expelir
Que são tão antigas

Quanto.

segunda-feira, 17 de abril de 2017

Ferida aberta

Minha energia suprime com a tua falta
Inquietação nociva
Pai de todos os males

Não há norte para nós
Nem morte
Não nesta vida

Tua presença é certa
Olhos que reconheço, corpo que sinto

Mãos pequenas, linhas apagadas
Ainda não me encontraste
E eu me enganei

Apaguei.