quinta-feira, 26 de setembro de 2013

O gato no chão

O pelo vermelho do gato
Grudado na carne do gato de quatro
Parado...
Observando a calçada a se movimentar
Os carros, as pessoas, bicicletas e cachorros. Imóveis...
Duros, secos como o banco de madeira na calçada.. que nem existe.
A rua se movimenta reta, certa, fluída

O gato observa
Pra onde essa rua leva toda essa multidão petrificada?
Não vê, não escuta, só angústia
Pra onde o esgoto corre, leva e afunda todos esses objetos do capital?
Que caminhos os postes iluminam?
Que passos ficam marcados no chão?
A cidade se move, as criaturas não.

O gato, como criatura, vermelha, quadrúpede, atenta, observa...
E pensa como vai sair desse chão?
E flutuar com o ar por caminhos livres de direção

Ele pensa em se jogar de uma escada
Mas sabe que vai cair de quatro no asfalto, no concreto
No chão de escada rolante
O mesmo chão da multidão, sem livre arbítrio, sem espírito, sem alma...
Ele pensa, ele corre no movimento contrário
Mas onde há chão... há direção.

As margens! Ah as margens!
Serão elas sua salvação?
Quem sabe na juventude....
Nas margens vão surgindo, nascendo, brotando todo tipo de perversão
Perversões que também estão no chão

O gato pensa na morte
Nos seus pelos vermelhos molhados, melados do seu interior
Vermelho, rosa, roxo, marrom, amarelo
A única solução..
Se jogar da janela, do prédio, do sol, no sol, no rio, num saco fechado
Nas drogas, no mundo mundano, impuro, sujo
A morte esta em lugares certos, na hora marcada
Mas ela só te leva se quiser
Sádica, risonha, estridente... Vadia!

Ela não levará o gato, e se levar do que vai adiantar?
Terá 7 vidas pra voltar. como gato...
Talvez de outra cor.
Jamais como pássaro, como flor, folha, partículas invisíveis
Sem civilização.

O gato pensa
E quando ver está seguindo uma rua
Está sentado num beco, esta vasculhando lixo...
Está nos bares com os outros gatos, com as drogas
Não está mais pensando...
Está viciado no chão
Em qualquer direção
Em qualquer repetição
Se apaixonou por umas pernas e lá ficou
Preso nas patas mortas de alguma criatura onde não pulsa mais sangue nas veias do coração
A cidade está viva, nós não.